Cresceu na Bahia até a sua adolescência, viveu no município de Acajutiba até terminar o colegial. Voltou em 1989 para São Paulo. Entrou no IMES em 1991 como estudante de Ciências Econômicas e como funcionário em 1994 até 2010 em um projeto. Hoje está na área de pesquisa acadêmica. Fez Técnico em Agropecuária. |
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Lúcio Flávio Dantas, idade não identificada
São Caetano do Sul, 19 de Junho de 2018
Pesquisadores: Luciana Cunha
Equipe técnica: Não identificado
Transcritor (a): Bruno Paulino Rodrigues
Pergunta:
Começa para a gente falando seu nome completo e sua cidade, por favor.
Resposta:
Meu nome é Lúcio Flávio Dantas, nasci na cidade de São Paulo, apesar de ter crescido em outra, talvez eu tenha até influência de outro estado do que meu de naturalidade, mesmo retornado há quase 30 anos, mas o período de vivência maior foi na Bahia, retornei em conjunto e fiquei uma boa parte da minha adolescência lá, em 1989 voltei para São Paulo, achei que seria por um período curto, as coisas foram se segmentando e eu não as mais. Ingresse, continuei minha fase acadêmica, não achei que faria aqui, mas quando percebi estava ambientado, acabei entrando na USCS em 1991 na condição de estudante, convidado pelo Osmar Domingues, que tinha um projeto, e em 1994 eu fiquei. Esse projeto ficou até 2010, um trabalho institucional que víamos a inflação do Grande ABC. A partir disso, até 2002 trabalhávamos em conjunto, ele foi para outro lugar e eu fiquei na liderança desse projeto de cabo a rabo, até que em 2010, por questões financeiras a própria universidade, não tendo condição, encerrou. Então migrei para área de pesquisa acadêmica, de 2012 até hoje, 2018, e com uma possibilidade de migração para outro departamento, mas com a desvinculação da área acadêmica, é certo já que nessa mudança que no Campus Conceição eu fique, mas por enquanto é a única coisa que temos certo.
Pergunta:
Então me deixa entender melhor, você nasceu em São Paulo, e mudou em...?
Resposta:
Mil novecentos e setenta e cinco, para Bahia, na cidade de Acajutiba, uma cidade pequena, na época com 10 mil habitantes. Fiquei lá até 1985, até terminar meu ensino médio, quando terminei meu ensino médio, fui para Acatu, uma escola que eu sou técnico em agropecuária. Era um colégio interno, uma rede federal, fiquei por 3 anos e em 1989 voltei para cá. Ingressei na USCS como aluno, fiz ciências econômicas na época, e depois até 1995, 1996, já no Lato Senso [5'], já tinha feito concurso e fiquei por aqui, mas meu ingresso inicial, como prestador foi em 1994, pelo Osmar, que era meu professor de estatística. Tocamos juntos até 2002 o projeto, e depois fui apenas eu mesmo.
Pergunta:
Quando você ingressou foi como funcionário administrativo?
Resposta:
Na verdade foi a única área chamada de técnica, técnico de pesquisa, estou até hoje, mas como função peguei mais a parte de pesquisa acadêmica, inclusive com a iniciação cientifica, um dos projetos eu até toquei com a professora Priscila, em laboratório, eu já conhecia a parte de licitação, e como a escola conseguiu a coordenação do projeto sobre a coordenação da Priscila Perazzo, tivemos um financiamento para parte da execução, pois a técnica era para ela e o Elias, e nesse convênio eu fiquei com a professora Priscila, mas foi mesmo porque ela precisava de alguém que pudesse ajudar ela nesse sentido, pois as coisas, uma série de problemas vieram, muitos cancelamentos, adiamentos, e no final ou no meio precisamos reformar tudo, para readequar as novas coisas da instituição, e o resultado bom ou não tão bom quanto imaginávamos foi esse curso de Hipermídias do projeto da professora.
Pergunta:
E como foi esse início de trabalho como pesquisa. Você gostava?
Resposta:
Na verdade não, a gente tinha no início uma coisa que era chamada de pesquisa aplicada, que eu comecei na linha de frente de qualquer instituição de pesquisa, e por mais que o INPES, da USCS, não tenha esse nome no mercado, ele tem esse segmento, pois quanto ingressei em 1991, comecei com entrevistador em um projeto velho chamado pesquisa socioeconômica, víamos as condições pelo ABC desde a época de 1983, duas vezes ao ano, março e setembro, a USCS manda dois funcionários para fazer essa pesquisa de domicílio, e foi nessa que eu acabei aparecendo por talvez necessidade. Parei de trabalhar na empresa antiga para estudar, e uma das fontes de rendimento seria justamente trabalhar como freelancer do instituto de pesquisa, e a partir disso, no ano seguinte tivemos um ano eleitoral, e a demanda de trabalhos rápidos, pede muito isso da pesquisa, muita gente, e nessa necessidade, vi que poderia sobreviver um tempo. Fiquei um ano nessa condição. Em 1994[10'], quando surgiu o interesse do professor Osmar eu já não estava nessa área como entrevistador, fazia estágio no banco do Brasil e no Instituto de Economia Agrícola, e nisso que veio a proposta. Abri a mão de outros dois para isso. Um trabalho aqui pedia 12 horas de trabalho, mas diferente do que normalmente a escola propunha não aceitaria inicialmente pela remuneração, após isso, quando foi de outra maneira, eu vim. Mas antes disso, em 1994 não havia ingressado nem nada, e eu fiz um contrato por tempo indeterminado, e eu prestei concurso um ao depois, pois a escola não poderia fazer por contrato. Ou eu ia embora, ou prestava concurso. Inicialmente relutei, pois achei que não era hora, tinha 20 anos, mas a Maria do Carmo e o Osmar mostraram uma perspectiva boa de ficar aqui e vim. Passei, achei que ficaria um ou dos anos, mas quando percebe, de dois para cinco, cinco para 10 e agora 25, e eu acho que nesse instante não me vejo fora da USCS, talvez por me ambientar e pensar sobre recomeçar. Parece que quando você fica muito tempo numa empresa você enxerga muito menos as possibilidades de recomeçar fora, e hoje estou com uma viseira, e além de ter me habituado, não vou me enricar, mas não vou morrer de fome, é aquela coisa de criar raiz. Por um lado, é bom, mas é ruim por talvez deixar de batalhar por algo que você, efetivamente, tem condições de alcançar, e eu sou um exemplo, eu tinha uma alvoracidade por conhecimento, alcançar coisas, e de repente se percebe que, obrigatoriamente, não é isso que lhe fará sobreviver em uma empresa. Consegui, não ter enxergado, mas as condições me fizeram assim, e hoje eu não tenha mais aquele gás para recomeçar. A idade chega, se acostuma e meu caso é esse.
Pergunta:
E como você vê sua linha do tempo junto da USCS, como você vê sua evolução?
Resposta:
Olha, às vezes eu paro para olhar para trás e percebo que, não traçando paralelo com USCS, mas comigo mesmo, ou vendo o que planejei e o que consegui, acho que não alcancei mais de 60% [15'], mas o amadurecimento lhe permite ver de você pensar em tudo que quer, mas mais da metade não precisa. E acho que essa associação me permitiu ficar aqui, porque logo no começo eu era muito voraz, almejava, para mim a vida era uma escada, e tem vezes que você deve subir mais pode parar e revisar para continuar subindo, mas não em um segundo, e é esse que eu acho que é o erro da nossa geração, ela chega em casa hoje, no trabalho, se você, em dois meses não chegar no meio ou topo acha que não evolui, e eu acho que teve um aspecto diferente, e eu nunca fiz um paralelo entre mim e a instituição, mas é obvio que, entre as estatísticas que eu tinha inicialmente, e muitos tinham, posso seguramente falar que não galguei os degraus que podia, mas ainda há tempo, mas traçando com a instituição posso dizer que na hora não tinha muitos cursos. Administração, economia e comércio exterior, ciências da computação ainda estava para começar, ainda era muito jovem. Você olhar e ver a USCS hoje não dá para traçar um paralelo, pois o mercado e gestores ajudaram, mas não que aqui as coisas sejam mais ou menos acertadas, mas sim que o mercado ofereceu mais para a USCS e deu isso. Conseguiu crescer, pelo menos dizendo em quantitativo, não dá para negar, com oito mil alunos, perspectiva de chegar em 10, 12 em dois anos, e esse crescimento é visível, mas não que as decisões sejam as mais ou menos acertadas, são apenas decisões que nos conduzem, acho que sempre tentei contribuir para atingir, pelo menos, e acho que junto com a USCS todos terão sua participação.
Pergunta:
Qual foi sua primeira impressão sobre a USCS? Primeiro, nas ciências econômicas, o que te trouxe e tudo.
Resposta:
Acho que foi o comodismo. Trabalhava perto daqui. A concessionária era uma fábrica e ficava aqui na frente, e na época existia efetivamente concorrência, tanto que tínhamos praticamente três escolas. Metodista. Santo André e a USCS [20']. Fui bem na três, mas vir para cá foi mais cômodo, só precisaria atravessar a rua, e aqui existia um horário que nem sei se sabem mas era o horário vespertino, que era das cinco horas da tarde até as oito da noite. Atravessava a rua, ficava até às nove e meia, pois meu trabalho começava as dez, trabalhava, de manhã saia. Apenas de sábado que eu ficava mais pois a aula era de manhã, então na sexta feira era aula, trabalho e aula, saia a uma tarde. A escolha da USCS foi essa, no começo, mas depois percebi que a USCS e a Fundação Santo André eram muito próximas, talvez a Fundação tivesse mais empresa, mas a USCS era muito bairrista, a divulgação da USCS era na Goiás, então você divulgava para quem conhecia, e como eu fazia entrevistas para pessoas que não sabiam, quando eu falava para os outros eles se questionaram, até uma vez falei com o professor Joaquim para colocarmos um outdoor bem longe para nos conhecerem, pois na Goiás é só andar reto que já chega na USCS, e a gente tinha relógio, outdoor, tudo na avenida Goiás, e me afetava. Poxa, precisava fazer isso longe, ou reforçar para conhecerem, que não era nosso caso. Ainda tem isso, mas eu achava muito ruim fazer promoção para onde todos conheciam. É o mesmo que chegar na minha mãe e falar qual o meu nome, não faria sentido. Na primeira escutaria e depois saberia, o mesmo da USCS. Isso a gente sentia, pois fazíamos entrevista, e quando íamos falar da USCS, por exemplo, em São Bernardo, na área de Riacho Grande ninguém saberia. Nisso, a Fundação era mais conhecia e os status sereia maior. Com o tempo a USCS cresceu e ganhou corpo, mostrando que era uma instituição que mostraria para outras. A instituição passa por uma fase meio complicada e não há tanto status. Não que ser da USCS não traga muito, mas antigamente falar que estudava aqui gerava muito questionamento do local, e isso me causava incomodo, pois logo no início, participava de muito processo seletivo, e quando perguntavam de onde eu era e eu contava perguntavam o que era[25'], e até falar o que era, onde ficava, não era muito claro, e hoje sabemos que com esse crescimento o mercado nos conhece, isso nos traz satisfação coisa que não acontecia.
Pergunta:
O que a USCS te representa?
Resposta:
Acho que, metade da minha vida eu passei aqui. Agora nem tanto, mas antes, pelo menos metade foi aqui, pois ficava entre 10 e 14 horas, às vezes até me consumia, mas nunca me preocupei, mas me representa meu local de sobrevivência, a possibilidade de formar, nesse local, um profissional, devo muito disso, durante boa parte, não só a acadêmica, mas também nossa formatação que assumimos pela atividade. Boa parte das relações pessoais estão vinculadas aqui, parte da minha vida está aqui, querendo ou não. Para quem não está a pouco tempo, é muito mais que um salário, representa amizades, crescimento profissional, e para mim não foi diferente esse tipo de situação.
Pergunta:
Tem algum acontecimento, passagem que você queira compartilhar com a gente?
Resposta:
Acho que não tenho tanta, como eu falei, fiz tanta coisa que ficou um estado normal, tem alguns trabalhos que realizamos que nos consumiram muito, que poderia ser colocado como especial, inclusive quando trabalhei no INPES, por necessidade acabamos fazendo o que muita gente falaria de ser insano, como trabalhar 40 horas seguidas, mas acabou sendo parte do dia a dia, e quem está nos departamentos colocou aas características no l9cal. Passagens negativas não posso colocar, óbvio que tem coisas ruins mas temos que aprender e ficar sem repensar, ou vai querer desistir de quase tudo.
Pergunta:
Se você se sentir bem, gostaria que mandasse uma mensagem para algum aluno que quer começar aqui, ou alguém que pensa fazer curso[30'].
Resposta:
Olha, eu penso mais no acadêmico. Acho que hoje estamos em uma geração que se cobra demais sem fazer uma avaliação mais adequada, É sempre o outro que é responsável, e para qualquer aluno que venha para cá, temos de deixar claro que, independente do que te dizem fora, só irá conhecer os aspectos positivos e negativos conhecendo e vivenciando. Não dá para compara só por alguém falando ou sem estar satisfeito, e isso impacta muito, pois quando recebe um comentário não muito positivo, não se perguntam se é mesmo isso, e qualquer aspecto negativo, não só na escola, a gente acaba trazendo como se fosse mais importante, e percebemos, pois, quando um aluno vem, ele sabe os aspectos negativos, mas ninguém vê ele sendo positivo. Os poucos positivos são mais reservados, e eu percebo isso por estar com a porta aberta e ver muitos criticarem coisas sanáveis e que não mudam em nada no dia a dia, então para um aluno que queira vir, a escola deveria fazer ele saber que ele deveria pensar no que dizem, efetivamente qual o motivo. Esses dias escutei um comentário no elevador dizendo que pelo preço que pagava teria de ter o metro, e não sabia o preço para se manter em um curso, e a UCSC, hoje, tem um orçamento de 75 milhões, significa que só pode gastar nisso no ano. É muito dinheiro, mas observando, começam com coisas muito simples, há uma infinidade de produtos e serviços para ela funcionar. O fato de pagar não faz que seja o único que precisa de recursos, e aí imagino como pensante que posso criticar por pagar, aquilo de eu pago eu posso que acha que é mais correto[35'], tenho mais desprezo e nesse aspecto não pretendo me aproximar tanto, e não devemos criticar, pois todas em um lado positivo, mesmo que tenha um grau de verdade grande, mas não dá o direito de agir assim, tenho pouca coisa para falar, pois tenho certeza que ouviu de tudo. Não tenho, não consigo achar que eu fiz algo tão diferente, acho que apenas contribui como pude, e acho que não só a USCS, mas minha permanência também, mas nada, não acho que seja especial nem a USCS, tanto o colaborador quanto a instituição procuram espaço e, em conjunto crescer, vendo o que a USCS pode fazer e o que o colaborador pode fazer. É uma caixa dentro da outra que tenta ocupar de melhor maneira possível o espaço.
Lista de siglas:
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul
INPES: Instituto de Pesquisas da USCS